A Visita da Cornélia foi, literalmente, um programa do tempo em que
os animais falavam. A vaca tinha uma voz muito gira. Até entrevistaram a
rapariga que, nos bastidores do Teatro Villaret lhe dava a voz; saíu
n'"A Capital", lembro-me bem. A vaca de madeira aparecia no palco mas
deixou de ter uma certa utilidade que lhe deram no início.
O engraçado no programa é que a vaca realmente não servia para nada e não se relacionava com o concurso, as equipas de concorrentes e o júri.
Grandes novidades vieram com este concurso: uma certa criatividade da classe média (o Pitum, o José Fanha...), um novo à-vontade desenvergonhado da classe média com a televisão, a participação activíssima dos jurados, e provas que eram ao mesmo tempo divertidas e criativas. A apresentação também era muito boa.
Os cinco membros do júri transformaram-se em estrelas. E a interacção entre os jurados - e os épicos choques entre alguns deles - era tão atractiva como as próprias provas dos concorrentes.
Pela primeira vez havia um concurso que não era nem de sorte ou azar nem de conhecimentos gerais. Os concorrentes da Cornélia tinham de fazer espectáculo, tinham de ser espectáculo. Anunciava-se entre nós esta faceta da sociedade do espectáculo.
A Visita da Cornélia é a maior glória da classe média portuguesa em televisão (naquela altura foi possível porque a classe média era quem mais mandava dos dois lados do ecrã). Deve haver gente tentada a refazer o programa. Mas, como disse, a Cornélia é do tempo em que os animais falavam. É melhor que não lhe toquem.
Eduardo Cintra Torres, Público , 29/09/2002
O engraçado no programa é que a vaca realmente não servia para nada e não se relacionava com o concurso, as equipas de concorrentes e o júri.
Grandes novidades vieram com este concurso: uma certa criatividade da classe média (o Pitum, o José Fanha...), um novo à-vontade desenvergonhado da classe média com a televisão, a participação activíssima dos jurados, e provas que eram ao mesmo tempo divertidas e criativas. A apresentação também era muito boa.
Os cinco membros do júri transformaram-se em estrelas. E a interacção entre os jurados - e os épicos choques entre alguns deles - era tão atractiva como as próprias provas dos concorrentes.
Pela primeira vez havia um concurso que não era nem de sorte ou azar nem de conhecimentos gerais. Os concorrentes da Cornélia tinham de fazer espectáculo, tinham de ser espectáculo. Anunciava-se entre nós esta faceta da sociedade do espectáculo.
A Visita da Cornélia é a maior glória da classe média portuguesa em televisão (naquela altura foi possível porque a classe média era quem mais mandava dos dois lados do ecrã). Deve haver gente tentada a refazer o programa. Mas, como disse, a Cornélia é do tempo em que os animais falavam. É melhor que não lhe toquem.
Eduardo Cintra Torres, Público , 29/09/2002
Comentários
Enviar um comentário